Nós
somos os estudantes negros da USP. Nós somos os 9% de estudantes negros
que passaram pela FUVEST. Nós somos os 4 estudantes negros do curso de
direito, nós somos o único estudante negro que entrou no curso de
psicologia nos últimos 3 anos, nós somos aqueles que estão no cursinho
tentando entrar no curso de medicina. Nós somos aqueles que nem sabem
que podem estudar de graça numa universidade pública. Nós somos o
estudante africano espancado na quadra do CEPEUSP, sem direito a
reclamação. Nós somos os moradores esquecidos da São Remo. Nós somos os
trabalhadores negros terceirizados esquecidos pela reitoria. Nós somos o
estudante negro de filosofia morto na Praça do Relógio Solar pela
negligência da faculdade. Nós somos os filhos das mães de maio de 2006,
que como vários outros irmãos não conseguem sonhar com a universidade
porque tem a vida interrompida pela bala da polícia.
Sou o
negro drama recitado pelo homem na estrada, sou aquele que não pediu
para nascer guiado pelo nosso livro de auto-ajuda, sim sou o monstro que
nasce todos os dias em algum lugar no Brasil, aquele no quarto de
madeira lendo a luz de vela, ouvindo radio no fundo de uma cela.
Realmente, o preto aqui não tem dó. Cê ta me entendendo? Mas também sou
Curuzu, Zumbi, Chico Rei, Luiza Mahim, Luis Gama, Abdias do Nascimento,
Carolina de Jesus, João Candido, Steve Biko, Martin Luther King, Angela
Davis, Malcolm x, Black Panthers.Sou Sabotagem, Dina Di, Yzalu, Mano
Brown, Edy Rock, sim eu sou HIP HOP, Mas também sou Clementina de Jesus,
Bezerra da Silva, Jovelina. Eu sou todas as nações de maracatu. Sou a
resistência!
Nos organizarmos pra resistir, nos
organizamos pra encontrar o nosso espaço, nos organizamos porque somos
esquecidos pelos movimentos, porque queremos tomar pra nós os espaços da
academia e transformá-lo, porque queremos destruir as estruturas dessa
sociedade racista que nos violenta, nos mata, nos oprime, nos destrói e
insisti em tentar nos embranquecer.